quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Carrego essa cruz e nosso amor vai ficando corcunda... (by Gabito Nunes)

Meninas, hoje, num dia de muito calor, muito trabalho e muita #tpmfeelings não consegui escrever, confesso!! O texto não é meu. É do Gabito Nunes (@carascomoeu ). Podem seguir!!! Eu gosto muito do estilo dele. Da cadência. Do charme. Da malícia. Particularmente, esse texto me atrai. Talvez os meninos que não nasceram MacGyver se identifiquem com ele. Com vocês: "Homem perfeito é a mãe."

Anote: Seu sogro pode ter pelos na orelha, matado alguém e ser bêbado. Você jamais terá hombridade equivalente.

Homem perfeito é a mãe, por Gabito Nunes

Alguém, não sei quem, andou ventilando o boato de que seria eu um exemplar - talvez exclusivo - do mítico homem perfeito, o don juan do imaginário feminino. O primeiro lampejo que cruza meu juízo acerca do fenômeno é a decadência do nível de exigência feminino ou que estamos na iminência de uma descoberta científica: repetidas desilusões amorosas afetam os neurônios. Em terra de blecaute, quem mantém a chama acesa é rei. Pode ser isso.

Eu juro. Nunca escrevi com o intuito de comer alguém. Mas já que... né? Então. Pra quem não sabe, passei a namorar uma fã (nem vem, há duzentos anos o Mick Jagger faz o mesmo e ninguém amola). Nos conhecemos no tuíter. Marcávamos nossos encontros com harshtags. Atrás de seus olhinhos castanhos e acelerados de paixão, ela também me platonizou, fez de mim um bravo, corpulento e adocicado merecedor inconteste de seus óvulos. Um pouco além e ela me visualizaria por entre prédios com uma cueca vermelha sobre a sedosa calça azul.

Bem. Ela desmentiria tal lenda, até com algum prazer e alívio, esfregando os carrinhos. Quatro meses já são suficientes pra aplacar com o polegar minha injusta reputação. "Homem perfeito é a mãe!", esbravejaria. Todo dia ela faz um strip-tease dos meus predicados. Me devolve à mortalidade. Me lembra de cortar unhas do pé, como fazem os comuns. "Achei que fosse mais alto". "Imaginei essa pinta mais pro lado do umbigo". "Nunca passou por minha cabeça que você ouvisse Raimundo Fágner". Pois é.

Carrego essa cruz e nosso amor vai ficando corcunda. É triste. A primeira briga, não faz tempo. Caro leitor, você precisava ver a carinha de decepção dela e das criancinhas naquela festa de oito anos quando eu, visivelmente encabulado, anunciei pra setenta expectadores: - Mas amorzinho, eu não sei fazer mágica. Eu sou escritor. "Então, vai ver preciso de um mágico!". E saiu toureando porta afora, com o calor da nasal gaseificando lágrimas de desencanto. É brabo.

Cortamos a fita da primogênita crise no domingo. Aparentemente porque sou incapaz de substituir o fio corrompido de uma sanduicheira. "Essa sanduicheira é importante pra mim, conto contigo". Putz, lá vem. E veio. "Como assim não sabe trocar um fio? Dê-me isso, pedirei a meu pai". Anote: seu sogro pode ter pelos na orelha, matado alguém e ser bêbado. Você jamais terá hombridade equivalente. Vide a psicanálise. Pai é referência. Pai é marido. Pai é pai. Pai sim é herói.

Mas eu sou escritor. Tudo posso. Rá! Tasquei-a pelo braço e no melhor estilo Clark Gable proferi uma linha típica do cinema: - Agora você vai me ouvir. Não sou seu pai, não sou perfeito, não sou super-herói e não sei trocar a porra de um fio de sanduicheira, entendido? Ah, nem gosto muito de aparar unhas! Mas eu sei a marca de suco que você gosta, considero sua intolerância à lactose, reviso seu TCC e gasto horas com preliminares quando eu poderia estar fazendo o download da segunda temporada de "The Big Band Theory". Acha pouco?

Teimosa e venenosa, como boa e fogosa escorpiana, teve a audácia de retrucar minha fala irretocável. "É pouco pra ser meu marido". Mas é aí que me refiro, criatura. Não nasci pra ser marido. Não tenho vocação pra Teodoro. Escritor não é pai, é namorado. E namorado é amante. E amante não resolve goteira, não instala cortina, nunca ouviu falar em buchas. Serviço doméstico de amante é bagunçar lençol. Homem perfeito não é a mãe. É o pai.


^^

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