terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A carne é forte e a alma é fraca... (By Carpinejar)

Meninas e Meninos!!! Achei esse texto do Carpinejar no "Mulher Perdigueira", confesso que tinha me esquecido dele. Gosto muito da maneira como o Fabro, bacanamente, trata determinados assunto! Com vocês, o situlmente picante "A carne é forte".


A carne é forte

Eu confessei todos os pecados de velho quando criança.
Ficar na fila para se confessar já era um despropósito.
Adivinhava qual era o padre que me ouvia pela voz fanhosa ou pelo sotaque italiano.
Havia o Alfredo e o Laércio. Padre tinha nome antigo, de moeda da Grécia.
Nascia e morria num dicionário de Latim.
Pensava que o sacerdote usava a janelinha de proteção por estar gripado.
Vivia gripado.
Todos os meus pecados eram um único: bater punheta. Mudava apenas o dia e o horário.
Não, não dizia bater punheta. Eu bati punheta somente quando adulto.
Eu dizia: eu me toquei, padre.
"Eu me toquei às 13h, eu me toquei às 18h, eu me toquei às 21h".
Vivia me tocando.
Torturado por não ir ao céu, confidenciava por quem me tocava. Acho que não precisava, mas pecado bom é com detalhe.
O padre conheceu minhas fantasias eróticas melhor do que qualquer mulher. A infância do meu erotismo.
Quando disse que sonhei com a faxineira da igreja, ele me penitenciou com a maior carga tributária de ave-maria e pai-nosso do bairro, o que sugere que estaria apaixonado por ela.
Largava o mesmo conselho diante da minha sucessão ejaculatória: "Pára de coçar, menino. A carne é fraca, querido, a carne é fraca".
Até hoje não posso ouvir a palavra coçar que sou transportado pelo riso para a sacristia da Igreja São Sebastião.
Depois de dois casamentos, mereço uma conversa séria com o menino que fui.
Podemos casar sem sexo. Mas amar depende de sexo forte e intenso. A alma é complacente, logo aceita qualquer migalha. O corpo, não. Orgulhoso de seu gosto, briguento, ferrenho. Não descansará se não for saciado.
O corpo tem muito espaço para ser escrito. Não esquecemos do que foi lido em nossa nudez.
Se o cheiro não atrai, inútil apelar para as gentilezas.
É o cheiro que chama, o cheiro que abraça, o cheiro que aperta. O cheiro das pernas, o cheiro da nuca, o cheiro dos cotovelos, o cheiro dos joelhos.
O cheiro da voz beijando, lambendo, chupando.
Sou forçado a avisar a criança da década de 70 - antes que ela se perca de novo - que a carne é forte e a alma é fraca.
No paraíso ou no inferno, quero o estorno de meus pecados. Tenho crédito em a ver.



^^

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