terça-feira, 5 de abril de 2011

Perguntar é demérito. Mulher não é moto que já se sente amada só em ser montada... (By Gabito Nunes)

Meninas e Meninos!!! Boa Tarde!!! E de baixo dessa chuuuuuva surge um texto que não é meu!!! É do Gabito!! Tenho um carinho especial com a sutileza com que ele é rude de vez em quando!!! O texto de hoje assusta, provoca, reclama!! Bacanamente desbocado!!! Comungamos da mesma teoria, a teoria do choque!! Tem horas que a gente tem que assustar, pra ver se o sangue corre!!! E ele fala do Oswaldo Montenegro!!!! Com vocês... "Te amo, porra"


Eu te amo, porra, por Gabito Nunes
Esperei 42 minutos, tomei seis cafés expressos com raspas de limão e fiquei admirando uma senhorinha cutucar o nariz terapicamente, enquanto folheava um Philip Roth. Ela entrou ainda contrariada de que aquele ataque pirotécnico dentro do supermercado tinha mesmo significado uma infantilidade.

Trouxe um papel da Marlise, a analista fã de Lacan, atestando isso. "Não foi uma infantilidade". Só isso escrito no papel deformado. Fraude. Eu posso acreditar que o Jim Morrison vive gordo e feliz numa chácara na África ou na ascendência do Ameriquinha rumo à primeira divisão nacional. Nunca em psicólogas mulheres que se chamam Marlise. Foi sim uma infantilidade.

Abre flashback:

Eu acudia acessos de carência, ensaiava embates contra ferrenhas tensões pré-menstruais e desenvolvi opinião sobre tudo. A verde ou a branca? Mas é só uma saladeira de plástico, linda. A-ver-de-ou-a-bran-ca? A verde, definitivamente a verde. Homens indecisos não têm vez. Isso é coisa de mulherzinha. Função dela. Ok, paixão, a branca então. Não, não troquei de cor de acordo com seu veto, meu bem. Tu me convenceu, a branca dá sim um quê vintage ao fundo escuro do armário da cozinha. As baratas, tivessem a consciência e o bom gosto do Walter Rodrigues, achariam o máximo. Do "você está caçoando de mim?" se fez o quiprocó, a tal infantilidade que deu em divã.

Fecha flashback.

Quem disse que eu retrocedi e abri mão da razão? Ela então encarou a multidão da rua mais movimentada no pior horário da metrópole. Desviava bonito dos transeuntes, secando lágrimelas do rosto. Lembrava o Edmundo de 97. Nos dribles, não no choro. Faltava algo no nosso amor. Eu amava, de fato e por direito. Administrava dúvidas, dívidas, rejeições e tepeêmes. Eu amava feito um militante. Eu amava feito um cachorro. Eu amava como amava um pescador amordaçado dentro de uma música do Oswaldo Montenegro. Faltava algum troço. Tava estranho isso. Tinha que ver isso ali.

Amor, só, é pouco. Tem que dizer em português. Nada de "ailoviú". I Love You parece aparelho novo da Apple. Tem de ser com tudo. Pode vir, amor. Tu é grande mas não é dois. Cuspindo. Homem só diz que ama em caso de extrema necessidade. É como mijar contra o vento. Não é confortável, mas tem de ser feito.

E a garota correndo no meio das velhinhas da calçada. E os vendedores ambulantes de água mineral. E você atrás - "Eu te amo, pirulitinha de framboesa!" - aos berros. A plenos pulmões. Banhado em desespero. Escorregando nas lágrimas que ela deixa no chão e as laranjas da fruteira que ela derramou inspirada naquele filme do Jackie Chan, que tu obrigou a coitada a assistir enquanto acariciava tua virilha.

Diga que ama, elas precisam escutar. Perguntar é demérito. Mulher não é moto que já se sente amada só em ser montada. Diz alguma coisa, pô. Meu doutor disse que mal não faz. Agora parece tarde. Ela nota seu acento exagerado nas palavras em bemol. O tom sai inconvicto. Homens, não adianta dizer "eu te amo". Elas não se convencem. Mas não se preocupe, em caso de emergência, use o "eu te amo, porra". Elas aceitam caralho também. Mas porra é mais eloquente. E manda mensagens subliminares de possível procriação.

Parágrafo único: Porra - Líquido fecundante, de consistência viscosa e aparência láctea, capaz de produzir bebês, sonho impregnado no subconsciente de 100 a cada 100 mulheres vivas, na faixa dos 25 aos 33 e que não tem nenhum disco da Maria Bethânia. Sinônimo: sêmen, etimologicamente originado de "semente". Na boca, a porra nunca falha.

- Eu te amo, porra.

E tudo parou. Ela parou. O táxi prestes a responder por homicídio culposo parou. Uma velhinha parou e até deixou escapar a chapa com dentes. O vendedor de água ficou olhando, perdendo dinheiro. Executivos engomados, beija-flores, aeronaves. Todos ficaram estupefatos com aquele dia atípico em uma grande cidade, cheia de gente desencontrada e só. O dia que uma pessoa gritou no meio da rua pra outra pessoa "eu te amo, porra". Também pudera, coisa rara.


^^

Um comentário:

  1. Pra mim, um "eu te amo, porra" clareia qualquer dia...
    Muda tudo oq vc pensava, tira seu fôlego e com ele as palavras da sua boca... um "eu te amo, porra" tira até sua razao na briga...


    Até pq, nao existe resposta a altura para um "eu te amo, porra" exceto por um SUPER beijo...

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